Suplementos e polivitamínicos para as crianças e adolescentes
A alimentação da criança e do adolescente é fundamental para um estilo de vida saudável e para prevenir doenças ao longo da vida, mas sabemos que manter uma alimentação equilibrada nestas fases pode ser uma tarefa bem difícil, né? Isso porque os hábitos alimentares sofrem fortes influencias do meio.
Quais são os fatores que afetam os hábitos de crianças e adolescentes?
Os hábitos alimentares construídos na primeira infância são predominantemente vindos da mãe que, geralmente, é a figura central ao ser responsável pela oferta de alimentos e preparações e também da pessoa mais próxima desta criança ou adolescente que prepara as refeições e oferece nos horários habituais da família ou escola.
Os hábitos são afetados por expressões genéticas de aceitação de sabores diferentes, aspectos sócio econômicos que permeiam o acesso maior a alguns grupos de alimentos e inibe o consumo adequado de nutrientes para as classes economicamente desfavorecidas, assim como questões étnicas e religiosas, que favorecem algumas restrições de consumo de proteínas de origem animal, por exemplo (Silva 2021).
O que devo considerar durante as refeições?
A atenção em alguns pontos no momento das refeições é muito importante e devem ser considerados e observados pelo cuidador da criança, como:
Deve haver atenção e interesse na alimentação da criança;
Atenção aos seus sinais internos de fome e saciedade;
A sua capacidade de comunicar necessidades com sinais distintos e significativos e a progressão bem-sucedida para alimentação independente (Black e Aboud 2011).
Sabemos que o consumo de alimentos deve ser analisado e ajustado a cada fase de vida pois, fisiologicamente analisando, a diferença de texturas deve ajustar-se a presença de dentes que garantam a mastigação adequada, assim como a combinação dos grupos de alimentos deve ser equilibrada para que o crescimento possa ser garantido.
A variedade dos grupos alimentares é fundamental para que o crescimento seja o esperado para a idade. Quando garantimos a presença de todos os macros nutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) já temos a base bem estabelecida. O grande desafio para a grande maioria das famílias é garantir o aporte de vitaminas e minerais suficiente para que os macronutrientes sejam bem utilizados por todas as células.
Principais micronutrientes
De acordo com o crescimento e desenvolvimento as necessidades mudam, mas o básico permanece, ou seja, o consumo de vegetais permanece como um desafio e também uma garantia de manutenção da saúde. Abaixo listamos os principais micronutrientes para garantir saúde e bom desenvolvimento físico e cognitivo das crianças e adolescentes:
Vitamina A ou Retinol: É um micronutriente que pertence ao grupo das vitaminas lipossolúveis. Pode ser encontrada no tecido animal sob forma de retinóides ou como pró-vitamina em tecidos vegetais, sob forma de carotenoide. A presença de gordura permite que essa vitamina seja absorvida e armazenada nos tecidos e muitas funções são desempenhadas por essa vitamina no organismo humano.
Ela atua na diferenciação celular, desenvolvimento dos ossos, ação protetora da pele e mucosa, desenvolvimento e manutenção da pele, desenvolvimento dos dentes (conservação do esmalte dentário), fortalecimento das unhas, dos cabelos e prevenção de doenças respiratórias; aumenta a resistência do corpo em relação a agentes infecciosos por meio de reforço ao sistema imunológico. Tem papel importante na estabilidade celular e nos tecidos do sistema imune.
A deficiência de vitamina A pode acarretar a xeroftalmia (cegueira e outros agravos a saúde, principalmente em países em desenvolvimento), xerose (nos estágios avançados, a córnea fica afetada, caracterizada por perda do brilho assumindo aspecto granular). Além disso, a deficiência desse nutriente pode afetar negativamente a função imunológica, favorecendo uma situação de diminuição de resistência a infecções.
Vitamina C ou Ácido Ascórbico: Pertence ao grupo das vitaminas hidrossolúveis e tem papel conhecido na síntese de colágeno e na ação antioxidante. Assim como também atua no sistema imune, com papel na manutenção da função da barreira epitelial e na produção de anticorpos.
A deficiência grave de vitamina C pode acarretar ao escorbuto, uma doença que tem como sintomas fraqueza, astenia, inflamação das gengivas, alterações no cabelo, hemorragias e dificuldades de cicatrização de feridas.
Zinco: Um componente estrutural/funcional de várias enzimas e proteínas. Participa de diversos processos fisiológicos e do metabolismo celular. O zinco desempenha várias funções no organismo humano, como defesa antioxidante, crescimento, desenvolvimento, aumenta, complementa e estimula a resistência do sistema imunológico.
A deficiência de zinco pode causar queda da imunidade, facilitando assim a infecção por vírus e bactérias, principalmente quando houver acometimento infeccioso do trato gastrointestinal ou do trato respiratório, redução do peso corporal e da massa muscular, lesões de dermatite bolhosa, irritabilidade, letargia e depressão, diarreia, lesões orais, alopecia, anorexia e comprometimento do crescimento.
Complexo B: Formado por oito vitaminas hidrossolúveis: B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B3 (niacina), B5 (ácido pantotênico), B6 (piridoxina), B7 (biotina), B9 (ácido fólico), B12 (cobalamina). Elas desempenham papeis essenciais para o nosso organismo, estando envolvidas na geração de energia, na saúde da pele e do sistema imunológico, além de uma série de outros processos.
Vitamina B1 (tiamina): Participa do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas. Ainda tem presença fundamental para o bom funcionamento do sistema nervoso. É encontrada em diversos alimentos de origem animal e vegetal como carnes, vísceras (especialmente fígado e coração), gema de ovo e grãos integrais. Sua deficiência no organismo pode levar a uma doença chamada beribéri, que afeta os sistemas nervoso e cardiovascular.
Vitamina B2 (riboflavina): Atua na formação das células vermelhas do sangue. É especialmente importante durante a gravidez, a fase de lactação e o crescimento infantil. Pode ser encontrada em produtos derivados do leite, folhas verdes e vísceras.
Vitamina B3 (niacina): Auxilia no aproveitamento adequado de carboidratos e proteínas, além de participar da síntese de gordura e do processo de respiração. Sua deficiência pode acarretar anormalidades digestivas que levam à irritação e inflamação das mucosas do trato gastrointestinal. Como consequência, episódios de diarreia se tornam constantes. Está presente principalmente em carnes magras, aves, peixes, amendoins e leguminosas.
Vitamina B5 (ácido pantotênico): Está relacionada com a síntese de colesterol, hormônios esteroides e neurotransmissores. Como é encontrada em diferentes tipos de alimentos (gema de ovo, leite, cereais, fígado de animais), são raros os casos de deficiência.
Vitamina B6 (piridoxina): Assim como a B2, ajuda a metabolizar proteínas, carboidratos e gorduras, ao mesmo tempo em que atua para o adequado funcionamento do sistema nervoso. Está presente em muitos alimentos, sendo suas principais fontes: aves, peixes, fígado, cereais e leguminosas.
Vitamina B7 (biotina): Também chamada de vitamina H ou biotina, regula a expressão dos genes. Está envolvida ainda em processos como manutenção dos níveis de glicose no sangue, manutenção de cabelos e unhas. Assim como a maioria das vitaminas do complexo B, é amplamente distribuída nos alimentos, sendo fontes importantes o fígado, os cereais, os grãos e os vegetais.
Vitamina B12 (cobalamina): É encontrada em alimentos de origem animal, como produtos lácteos, carnes, frutos do mar, peixes e ovos. É responsável por importantes funções no organismo, garantindo o metabolismo celular, especialmente as células do trato gastrointestinal, da medula óssea e do tecido nervoso. Baixos níveis acarretam manifestações graves, como a anemia megaloblástica e a anemia perniciosa. Grupos específicos, a exemplo de vegetarianos e veganos, e pessoas com mais de 50 anos são os mais vulneráveis à deficiência de vitamina B12, sendo a suplementação, com recomendação de especialista, uma boa estratégia para esses casos.
Vitamina D ou Colecalciferol: Conhecida como a vitamina do sol. É um micronutriente pertencente a classe dos lipossolúveis, obtida por meio da ingestão de alimentos de origem animal e vegetal, além de ser produzida no organismo, a nível da pele, por ação da radiação ultravioleta. Exerce fundamental importância na homeostase do metabolismo de cálcio e fósforo, atuante na constituição de ossos e dentes saudáveis e, por consequência, no crescimento adequado.
A deficiência da vitamina D pode acarretar raquitismo em crianças, cujos sintomas são: fraqueza muscular, dor nos ossos e articulações, além de atraso no crescimento; osteomalácia em adolescentes e adultos, cujos sintomas são: osteopenia, dores generalizadas e espasmos musculares.
Importância dos nutrientes
Considerando a importância de todos estes nutrientes e como eles agem em nossas células, garantir a adequação é conseguir manter o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes em todas as diferentes fases e necessidades. E, neste aspecto, é importante entender que algumas doenças ou sintomas poderão ser tratados por uma suplementação única, como é o caso do ferro na anemia. Na adolescência, é comum a presença de sobrepeso e ou obesidade por fome oculta, que é a definição de falta de vitaminas e minerais causando desequilíbrios hormonais e celulares.
A suplementação pode ser considerada como estratégia preventiva e também corretiva de desequilíbrios nutricionais agudos, como anemia, ou crônicos como baixo desenvolvimento ósseo e cognitivo. Suplementos contendo diversas vitaminas e minerais podem ser utilizados com segurança e eficácia e quanto mais opções de formas de apresentação mais adesão ao tratamento haverá por parte das famílias e dos pacientes, onde a orientação e acompanhamento de um profissional de saúde é recomendado.
Suplementos de vitaminas e minerais
E os suplementos de vitaminas e minerais? Usar a suplementação de vitaminas e minerais é uma estratégia para garantir o considerado mínimo necessário para que não haja possíveis doenças por falta destes nutrientes. Os suplementos são formas diferentes de oferecer os nutrientes que a criança ou o adolescente que não consegue consumir em sua alimentação rotineira, seja por falta de habito ou por falta de acesso.
As crianças e adolescentes podem tomar um polivitamínico ou uma vitamina isolada desde que haja a recomendação de um profissional de saúde habilitado e acompanhamento afim de decidir melhor forma e horário para consumo. Um dos grandes exemplos foi a preocupação com deficiências importantes, como o ferro, que levou o Ministério da Saúde a exigir a fortificação de farinha de trigo com o objetivo de reduzir os casos de anemia por deficiência de ferro na primeira infância.
Considerando que os alimentos fontes de nutrientes usualmente não são consumidos em quantidades e frequência ideais, podemos considerar como necessário a suplementação de polivitamínicos e/ou vitaminas isoladas em alguns casos.
Referências:
Black MM, Aboud FE. Responsive feeding is embedded in a theoretical framework of responsive parenting. J Nutr. 2011;141:490-4.
Brito TB, Oliveira TA, Medina TS, Nascimento FR, Nascimento TP, Ferreira SM. Acessibilidade, biodisponibilidade e consumo de alimentos ricos em carotenoides e vitamina A em crianças de até 5 anos. Revista de Alimentação, Nutrição e Saúde. 2019;1:1-13.
Food and Nutrition Board. Dietary reference intakes. Washington, DC: National Academies Press; 2001.
SILVA, Giselia A.P.; COSTA, Karla A.O.; GIUGLIANI, Elsa R.J.. Alimentação infantil: além dos aspectos nutricionais. J. Pediatr. (Rio J.), Porto Alegre , v. 92, n. 3, supl. 1, p. 2-7, June 2016 .
Singer P, Blaser AR, Berger MM, Alhazzani W, Calder PC, Casaer MP, et al. ESPEN guideline on clinical nutrition in the intensive care unit. Clin Nutr. 2019;38:48-79.
World Health Organization. Complementary Feeding. Infant andyoung child feeding. Model chapter for textbooks for medical students and allied health professionals. Geneva: WHO; 2009.p. 19-28
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